segunda-feira, 28 de junho de 2010

História da Diálise Domiciliária

Em 1960 o Dr. Belding Scribner a trabalhar em Seattle, Washington desenvolveu um pequeno shunt que ligava uma artéria a uma veia (o shunt arterio-venoso). Este permitia o acesso à circulação sanguínea de uma forma continuada no tempo, tornando possível a realização da diálise por tempo indefinido.

O primeiro doente a fazer diálise, era um maquinista da Boeing de nome Clyde Shields, que permaneceu em diálise durante mais de 10 anos. Logo se seguida mais 3 doentes iniciaram diálise. Com excepção de um doente que faleceu de complicações cardiovasculares alguns meses após iniciar diálise, todos os outros sobreviveram em diálise por longos anos.

Desde então era possível substituir um órgão vital de modo a sustentar a vida por um período de tempo indefinido. Isto ajudou a catapultar a diálise para a posição de um dos maiores avanços médicos do sec XX, e tornou possível para os Insuficientes Renais (IRC) a possibilidade de uma nova vida, que sem tratamento seguia o curso natural para a morte.

A história da Diálise Domiciliária (HDD) confunde-se com a história da própria Diálise
Dr. Belding Scribner

O desenvolvimento da diálise iniciou-se com apoios para investigação, de modo que fornecer diálise a mais doentes obrigou a uma recolha de fundos em outras instituições publicas e privadas. Em virtude da escassez destes recursos a entrada em diálise estava restrita apenas a alguns doentes que obedeciam a critérios muito apertados, definidos por comissões médicas e de aceitação. Foram tempos difíceis para a comunidade dos médicos que tratavam estes doentes e mais para os próprios doentes.

Uma jovem, de nome Carolina de 16 anos, que sofria de lúpus eritematoso e tinha sido rejeitada para fazer diálise, levou Dr Scribner e o seu Engenheiro Dr Babb a encetarem uma corrida contra o tempo afim de prepararem uma máquina e tratamento de águas que pudesse ser levada para casa, que fosse segura e permitisse ser operada pela mãe de Carolina. Isto foi bem sucedido, e a Carolina foi colocada a fazer diálise no domicilio, onde fez diálise durante mais de 5 anos.

Clyde Shields

Depois desta experiência, outras se seguiram, e rapidamente se apercebeu que fazer diálise em casa era possível, seguro e alem do mais, permitia uma melhor reabilitação. Dado ser mais económica, ir para casa permitia oferecer diálise a mais doentes. Popularizou-se então a expressão "ir para casa ou ser transplantado".
Rapidamente cresceram os programas de diálise em casa. Em Seattle é transformado um motel num local de ensino para diálise domiciliária, o Coach House Motel. Ai foram ensinados muitos doentes de todo os EUA e de alguns países da Europa e Ásia.

A Jovem Carolina

No inicio da década de 70, uma grande parte dos doentes IRC praticavam diálise no domicilio, 40% nos EUA, 60% na Inglaterra, 50% na Austrália e Nova Zelândia e cerca de 20% em muitos Países da Europa. Portugal passou ao lado deste fenómeno.

Em 1972/1973 o Governo dos EUA aprova a comparticipação da diálise, e a partir daqui surgem por todo os EUA centros de diálise privados, o que veio a permitir o acesso quase universal ao tratamento, mas por outro lado desincentivou a ida para o domicilio. A Diálise Peritoneal, outra modalidade de diálise no domicilio, que era mais simples e fácil de aprender começou a estar disponível. Por estas e outras razões, a diálise domiciliária entrou num franco declínio, atingindo menos de 1% da população em diálise no ano de 2004. Apenas a Austrália e a Nova Zelândia dos Países mantiveram números expressivos de doentes no domicilio, entre os 25 e os 50%.


Gráfico dos pacientes que faziam diálise em domicílio na Austrália e Nova Zelândia.

Evolução dos pacientes de diálise em domicílio

Apesar deste declínio sempre existiram regiões em diferentes Países do mundo que mantiveram um grande numero de doentes em diálise no domicilio, confirmando os melhores resultados com esta modalidade de tratamento, como seja a melhor Reabilitação, uma mais baixa taxa de hospitalizações e uma mais baixa mortalidade.

Nos últimos anos, principalmente com novas máquinas mais apropriadas ao domicilio, esta modalidade de diálise parece estar em franca expansão, e as grandes companhias de diálise estão a ver nela um segmento de mercado aonde vale a pena investir.

O ressurgimento da diálise no domicilio está em curso.

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